24.5.11

A rua é do Rio... mas fica lá em São Paulo!

Um passeio pela charmosa Rua Rio de Janeiro, localizada na capital vizinha

Rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo: prédios simpáticos dos anos 40 e 50 fazem parte do circuito

Para mim é impossível ir à cidade de São Paulo e não visitar, pelo menos por um pouquinho de tempo, as belíssimas ruas do bairro de Higienópolis, no centro da capital. A região destoa de todo aquele estereótipo de largas avenidas e prédios ultramodernos ostentado por São Paulo; pelo contrário, é um bairro pra lá de familiar, pequeno e com o melhor da "antiga" arquitetura. Uma mistura do bairro do Flamengo nos áureos tempos com a porteña Recoleta, em Buenos Aires. Agradabilíssimo. Parte das ruas de Higienópolis recebe o nome de estados brasileiros... foi aí que me deparei com a Rua Rio de Janeiro. Mesmo estando em São Paulo, não deixa de ser uma rua do Rio! (Ha!)

Edifício Barão de Loreto:
imóvel aí custa em média
R$ 1.244.389,13
A Rua Rio de Janeiro é constituída por edifícios de diferentes estilos arquitetônicos, embora muito iguais em charme. Mesmo os mais modernos, que são poucos, refletem toda a pompa ostentada por Higienópolis, berço da aristocracia paulistana. Árvores e pequenos canteiros ficam dispostos ao longo das muito bem niveladas calçadas, em intervalos bem definidos. Em alguns trechos, parte da calçada perde seu cimento para dar espaço a blocos de gramado que felizmente não portavam cocôs de cachorro. Uma observação interessante, não só dessa rua, mas como de muitas em São Paulo, é que elas contam com cestos metálicos de lixo em frente de cada imóvel. Ao invés daquelas sacolas azuis empilhadas no chão, acompanhadas de entulhos dispensados por nós, cidadãos, busca-se um critério pela organização da coleta do lixo, mesmo que não seja seletiva.

A Rua Rio de Janeiro nos arredores da Rua Pernambuco

Distanciando ainda mais da figura do típico-caótico trânsito paulistano, a Rua Rio de Janeiro é bem calminha, podendo-se até caminhar pela sua via se houver cuidado. Mas quase ninguém faz isso! Pareceu-me que o limite calçada-rua era bem respeitado, ainda mais naquela fria manhã de domingo ensolarado. Deve ser hábito comum dos moradores de Higienópolis caminharem e correrem pelas alamedas do bairro nos fins de semana. Pelo menos ao longo da Rua Rio de Janeiro, muitos iam-e-vinham devidamente agasalhados (mesmo!) em seus trajes de ginástica. Na falta de um calçadão, Higienópolis conta com o Parque Buenos Aires, bem próximo da Rua Rio de Janeiro, que acaba transformando-se em uma expansão deste através da Rua Piauí.

Horizonte sem prédios:
zona alta
Um dos grandes baratos de Higienópolis - e especialmente da Rua Rio de Janeiro - é por estar em uma parte bastante alta. Aliás, é bom reiterar que as ruas de São Paulo são formadas por altos e baixos, ladeiras por todos os lados. Como alguns prédios foram construídos no centro do terreno, ou, em outros, a entrada para garagem se dá pela lateral, tem-se uma bela vista do horizonte, bem azul, justamente porque ali é a parte alta. Aproximando-se, é possível avistar casas e prédios ao longe e em nível inferior, que é a região do bairro do Pacaembu, onde está o estádio de mesmo nome. O desnível entre as ruas pode ainda ser constatado pela Praça Esther Mesquita, que é quase uma espécie de "barranco" arborizado, separando a Rio de Janeiro da Rua Engenheiro Edgar Egídio de Sousa. O acesso entre os dois logradouros se dá por uma íngreme escadaria. 

 Praça Esther Mesquita, no final da Rua Rio de Janeiro: pausa para o descanso

Consideraria a parte mais agradável da Rua Rio de Janeiro o seu final, no encontro com a Avenida Higienópolis e a Rua Conselheiro Brotero. É ali onde a parte "utilizável" da Praça Esther Mesquita se encontra, cheia de mesinhas e cadeiras oferecidas, provavelmente, pela barraquinha de frutas. Bem ao lado, só que mais isolado, diversos aparelhos públicos de ginástica, destes novos, verdes, que a Prefeitura anda colocando em pontos estratégicos, mesmo aqui no Rio. É ali onde babás, em seus branquíssimos uniformes, remexiam seus sorridentes bebês nos respectivos carrinhos. A banca de jornal parece atender não só aos moradores da área, mas a quem quisesse parar por ali para ler uma revista ou jornal. Até água de côco estavam tomando! Bom... Parabéns para a Rua Rio de Janeiro... apesar de estar em São Paulo, ela bem que conseguiu fazer jus ao seu nome! 

 Rua Rio de Janeiro com Avenida Higienópolis. Observe que a sinalização das ruas ocorre de duas formas: na parte inferior, para pedestres, e na superior, para motoristas.

Veja mais fotos da Rua Rio de Janeiro, em São Paulo:

11.5.11

Panoramas Rápidos (15) | Avenida Bartolomeu Mitre

Bartolomé Mitre foi presidente da Argentina no século XIX, mas está imortalizado na avenida do Leblon que leva o seu nome, aqui no Rio de Janeiro. Principal conectora do Leblon ao bairro da Gávea, a Avenida Bartolomeu Mitre - é chamada assim, com o U e sem o acento grave - aparece acima em um dia de feriado, com trânsito bem mais calmo do que o normal.

4.5.11

Enquanto isso, perto da Saens Peña...

... o antigo externato do Colégio São José tem vivido às moscas, literalmente. O belíssimo edifício, localizado à Rua Barão de Mesquita 164,  conta com 2 000 metros quadrados. Está abandonado há algumas décadas e ninguém se interessou em reocupá-lo. Sua calçada está loteada de lixo, sujeira e entulhos. Na hora do rush, diversas kombis (piratas, quem sabe...) fazem uso do espaço em frente ao ex-colégio para embarque e desembarque de passageiros. Porém, agora parece que o antigo São José poderá ganhar um final feliz: há poucas semanas, afixaram um imenso cartaz de "ALUGA-SE" na sua fachada. Perfil de ocupação? Centros culturais, colégios, universidades. Isenção de IPTU. Implora-se pela sua recuperação!

 O antigo externato do Colégio São José, na Barão de Mesquita: desativado na década de 1990, para, em troca, inaugurar uma filial nas imediações da Barra e do Recreio.

Após quase duas décadas sem sinal de vida, a corretora Imovel-On parece ter-lhe oferecido um caminho para a salvação. 

 Observe a sujeira ao redor do colégio. Observe, também, como pequenos detalhes vão sendo substituídos por verdadeiras aberrações: o indicador original do número do imóvel (164), quase não aparece mais, destacando-se uma folha de papel impressa em Times New Roman.

Em tempo: o externato do tradicional Colégio São José, que manteve sua filial na Usina, é citado em um trecho do livro Agosto, de Rubem Fonseca. O  romance, uma mistura de ficção com realidade, ambientado na década de 50, em uma das partes da narrativa  conta que Carlos Lacerda estaria dando uma espécie de audição pública dentro do colégio, enquanto alguns meliantes tramavam um dos possíveis ataques ao jornalista e ex-governador do lado de fora.

Só de ter uma referência desse porte, vê-se que o externato do São José foi (e deveria continuar sendo) muito tradicional e relevante. Apreço histórico suficiente para o seu resgate. Os tijucanos agradeceriam!

2.5.11

O centenário da Praça Saens Peña

 A Praça Saens Peña, na Tijuca, comemorou aniversário no último sábado (30/04) com uma bela exposição ao ar livre de fotos antigas do local

Uma das praças mais famosas da cidade do Rio comemorou seu centenário no último sábado, dia 30 de abril: a Praça Saens Peña. Em geral, a comemoração de aniversário de determinados logradouros nunca geram tanta repercussão fora dos bairros onde estão. Desta vez, com a praça tijucana, o negócio foi diferente - ganhou até caderno especial de 70 páginas do Jornal O Globo, com fotos antigas, análise arquitetônica, entrevista com antigos moradores, entre outras matérias compactas, embora não menos interessantes. 

Painel junto ao lago
Pode-se dizer que a Praça Saens Peña é um dos lugares da cidade que mais sofreu decadência em função do crescimento da insegurança urbana nas últimas décadas do último século. De lugar elegante, com as melhores e mais bem refrigeradas salas de cinema do Rio, a praça hoje virou mais um local de passagem do que de passeio. Os cinemas - entre eles, o Olinda, Metro-Tijuca, Carioca e América - transformaram-se em grandes lojas de departamentos, ou até mesmo em lojas daquelas mais populares. Restaurantes quase não se vêem mais, tornando o comércio bastante repetitivo: farmácias de um lado, óticas do outro. Por um lado, isso atrai a turma da terceira idade à Saens Peña, aos montes por lá, os principais consumidores deste trecho da Tijuca; por outro, sem opções de lazer noturno, a praça vira mais um lugar para camelôs, mendigos e baixa circulação de pedestres.

 Os pedestres param para admirar a antiga imagem dos antigos cinemas da praça. Na primeira foto, moça fotografa o interior do art-déco Cinema Carioca - hoje uma igreja; ao lado, o refrigeradíssimo Metro-Tijuca, prédio ocupado pela C&A atualmente.

Existe um movimento formado pela Associação Comercial e Industrial (ACIT) do bairro de promover a revitalização da Praça Saens Peña. Inclusive, cheguei a ter contato direto com os participantes do projeto, embora, por agora, eu esteja desatualizado em relação a como têm avançado o alcance dos objetivos. E acho também que foi graças à essa sinergia de resgate da memória da Tijuca como bairro tradicional do Rio, importante do ponto de vista cultural, que foi possível obter essa singela repercussão do centenário da Praça Saens Peña. 

 Pai e filha observam os peixes do tradicional lago da Saens Peña, enquanto a radialista Jussara Carioca apresentava seu programa ao vivo da praça para a Rádio Globo, ao fundo.

A construção do metrô
parece ter sido um caos, na
época. (Imagem reproduzida)
Quem teve a oportunidade de passar por lá, no sábado, deleitou-se com diversos painéis espalhados ao redor do lago da praça com imagens antigas da região. Como grande interessado em registros históricos da cidade do Rio, fiquei surpreendido com a quantidade de imagens raras e ampliadas, nunca antes vistas por mim. A mais curiosa é a que mostra a vista aérea da praça no dia da inauguração do metrô, em 1982. A Conde de Bonfim lotada e a praça, linda, sem grades e revestida por pedras portuguesas. Outro painel mostrava o saguão lotado do belíssimo Cinema Carioca, todo em art-déco, na esquina da Rua das Flores (oficial Major Ávila, no trecho). O cinema foi desativado no ano 2000 e desde então é, infelizmente, ocupado por uma igreja. 

A Rádio Globo parece ter sido uma das patrocinadoras do evento naquele sábado de manhã. A radialista Jussara Carioca, mais conhecida como a Juju, da Rádio Globo, apresentava seu programa diretamente da praça, rodeada de senhorinhas e senhores que ganhavam brindes nas brincadeiras promovidas pelo programa. Uma cena rara foi a quantidade de pessoas fotografando a praça, mais limpa e bem policiada. Senti também que os painéis provocavam um certo ar de nostalgia por quem os admirava. Não era difícil encontrar alguém suspirando pelo fechamento do cinema preferido ou do Café Palheta e da Sorveteria Tijuca.

 Um dos painéis mais interessantes mostra o cartaz promocional do governo Chagas Freitas para a inauguração das três estações tijucanas do metrô, em 1982: Afonso Pena, São Francisco Xavier e Saens Peña. 

 Enquanto a Conde de Bonfim segue com seu ritmo habitualmente frenético, dois senhores, tranquilíssimos, continuavam a divertir-se com as cartas. Ao lado, mais um ângulo do lago da praça.

O trânsito na Conde de Bonfim
O post de hoje pode ter sido um pouco puxa-saco, afinal, tijucano que se preza, como eu, quer sempre ver o bem do bairro em que vive. A questão é que, de fato, a Tijuca guarda muita história, que veio sendo severamente maltratada ao longo dos anos. Prédios e casas belíssimas sofreram a intervenção de gente mal entendida no assunto para puros fins lucrativos; lojas bastante tradicionais, que representavam muito bem o dia-a-dia do tijucano, foram para o beleléu; os cinemas de rua, coitados, não conseguiram competir com o conforto dos shopping centers. Preciso procurar a fonte de onde li isso, mas, na década de 60, um apartamento na Rua Homem de Melo, poderia custar o mesmo que um na Nascimento Silva, em Ipanema, o que mostra o quanto o bairro decaiu em função da violência, entre outros inevitáveis problemas econômicos que assolou a sociedade brasileira.



 Dois outros visuais típicos da Praça Saens Peña - a movimentada Rua General Roca, que hospeda uma das entradas para a estação do metrô. 

 A Tijuca foi tão 'particularmente particular', se me permitem a expressão, que impressiona a quem mora e/ou visita pela sua descaracterização. Acho que um projeto de revitalização da Praça Saens Peña, como o que tem sido promovido pela ACIT, pode ser fundamental para o resgate, não só cultural, mas de identidade de uma região que continua tendo muito potencial e localização estratégica. Os índices imobiliários não me negam. De qualquer forma, espero que a Saens Peña tenha a mesma sorte que a Lapa teve em sua recuperação, assim como a Zona Portuária terá, entre outros exemplos aí pela cidade.


Conde de Bonfim: a rua com cara de avenida que margeia a Praça Saens Peña.

25.4.11

Avenida Rainha Elisabeth: a rua que é pomposa até no nome

Na Avenida Rainha Elisabeth, tudo é pomposo: desde o seu nome até os edifícios e casas levantados por lá, incluindo aí a sua nobre localização, entre Copacabana e Ipanema, bem pertinho do Arpoador, na Zona Sul da cidade. Vale lembrar que ela é do início ao fim protegida pela orla - começa na Praia de Copacabana terminando na de Ipanema. Privilegiada, não?

Mapa da rua fotografada e o seu entorno, na Zona Sul do Rio

Mas não só de pompa ela vive. A Rainha Elisabeth (a avenida, e não a rainha!) também provoca sensações de alívio no dia-a-dia, principalmente para quem se direciona para Ipanema e Leblon nos dias úteis, bem na hora do rush. Tudo bem que com o BRS da Barata Ribeiro e Raul Pompéia o trânsito vem melhorando na região, o que não impediu de apagar da memória o sufoco que era pegar todo o caos da Barata Ribeiro às seis e tanta da tarde e o alívio provocado ao ver o seu ônibus (ou carro) conseguir entrar à direita, na Rainha Elisabeth. Significa "escape", "reestruturação da paciência", "fim do estresse", entre outras formas de expressão.

O cruzamento com a Raul Pompéia
Tanto é uma avenida de passagem entre duas regiões que muitos nem percebem com detalhes os seus monumentais edifícios e jardins. Até porque muitos pedestres preferem fazer a conexão Copa-Ipanema através da Rua Francisco Otaviano, restando à Avenida Rainha Elisabeth o fluxo de automóveis e moradores. Não exatamente só de moradores; por ali circulam muitos gringos, arrastando suas malas pelas calçadas de pedras portuguesas, enquanto outros entram e saem do restaurante Broth, quase na esquina com a Canning, já no território ipanemense. É fácil identificá-los como gringos simplesmente pela quase ausência de cor de pele, se não fosse pelo vermelho do sol. Aliás, os gringos são uma marca de Ipanema. Não há como pensar em Ipanema sem não associá-los. Copacabana hoje é menos "gringa" e mais turística. Isto é, engloba mais turistas de outras áreas do planeta que não sejam loiros-de-olhos-azuis do que a vizinha Ipanema.

Vista lateral do edifício Acary, localizado no Largo do Poeta

O charmoso edifício Oliveira
A Rainha Elisabeth é representantíssima do estilo art déco, entre outros edifícios maravilhosos dos Anos Dourados. Escadarias com corrimão de bronze, portarias luxuosas, mosaicos, venezianas... Encontra-se de tudo do que há de mais simpático na cidade, o que a torna um dos meus logradouros favoritos. O nome dos edifícios são fáceis de serem guardados, pela simplicidade e por, em geral, remeterem à algo histórico: Aquidabã, Piratininga, Rio Verde, Marcio, Itayã... O Acary é meu preferido, enquanto o Oliveira, no número 601, destoa totalmente dos demais. O Guia de Arquitetura Art Déco no Rio de Janeiro, organizado pela Prefeitura (Editora Casa da Palavra, 3ª edição, 2001), descreve:

"Obra singela com características balneárias. Os compartimentos de canto, voltados para 45º para uma hoje encoberta paisagem, sugerem uma intenção de visão ampla do horizonte que só os mirantes proporcionam. (...) Os frágeis guarda-copos das varandas, desprovidas de parapeitos de alvenaria, inspiram-se nos decks e passadiços de arquitetura náutica".

O busto do Rei Alberto
da Bélgica
Na esquina com a Rua Conselheiro Lafayete, o que talvez seja a fronteira entre os dois bairros que hospedam a Avenida Rainha Elisabeth, está um simpático largo. É bem ajardinado, possui uma filial do badalado supermercado Zona Sul, e ainda conta com um busto do Rei Alberto I da Bélgica, que visitou o Rio junto de sua esposa, a Rainha Elisabeth, em 1920. No entanto, a antiga Rua Doutor Pires de Almeida só se transformou em Avenida com o nome da rainha dois anos depois, por decreto do então prefeito Carlos Sampaio (mais informações no blog Rio Curioso). Mesmo homenageando o Rei Alberto, o largo tem como referência é Carlos Drummond de Andrade. O Largo do Poeta foi inaugurado em 1990 e leva, em suas pedras portuguesas, algumas das frases mais célebres do poeta. Só para constar: é ali onde está o luxuoso edifício Acary, como vocês verão nas fotos. 


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Mesmo com toda a pompa, a avenida não consegue fugir dos terríveis cocôs de cachorro. É um mal que amedronta toda a cidade, de norte a sul. É impressionante! Andar por ali requer cuidado com a sola do sapato. Não me esqueço até hoje de uma inteligente placa instalada na pequena Rua Goethe, em Botafogo: "Recolha as fezes do seu cachorro. O animal é ele, não você!". Outra associação bastante original foi a dos moradores do Flamengo, em uma certa ocasião: "Cocô só Chanel". Apesar da bosta espalhada, algo passa a ser mais sufocante do que o citado odor: a vista da praia de Ipanema, com o Morro Dois Irmãos, chegando ao final da Rainha Elisabeth. Ok... Incluo aí também as meninas de biquini que passeiam pela Vieira Souto, em bicicleta ou a pé... Paisagem sufocante... Céus!...

22.4.11

O nosso Ibirapuera

Injustamente a Quinta da Boa Vista é conhecida (ou prejulgada) como "parque de pobre", "de suburbano", ou qualquer outro termo que refira à algo fora da moda e do sofisticado. Besteira das grandes! Como já havia dito, no Rio de Janeiro, a cultura do parque é pouco valorizada em função da praia, que aquece e refresca os corpos mais necessitados nos dias de calor que nos são comuns. Existe aquela coisa também do que "está fora da Zona Sul" não é bacana - é feio, pouco seguro e cafona. Se é assim que a classe formadora de opinião pensa, estão perdendo! A Quinta da Boa Vista é agradabilíssima, linda e relaxante.

Mapa do entorno do parque
Há tempos que não entrava lá. Logo na entrada, surpreendi-me ao ignorar a história do lugar contada em diversas placas ao longo de suas alamedas. Projetada pelo paisagista francês Auguste François Marie Glaziou (mais popular como Glaziou, como a rua de mesmo nome, em Pilares), o jardim da Quinta da Boa Vista é cheio de curvas sinuosas, altos e baixos, lagos - onde se pode remar e andar naqueles pedalinhos em formato de cisnes. Há também uma pequena, estreita e pitoresca ponte de madeira sobre um dos lagos, além de grutas artificiais. Um dos monumentos que mais se destacam na Quinta é o Pagode Chinês, construído em 1910 e restaurado há pouco tempo, em 2009, já na gestão do prefeito Eduardo Paes. O seu acesso se dá através de suaves degraus margeados por pedras. Era de fato o lugar mais disputado!

Devido ao desnível entre as alamedas, diversas famílias e grupos de amigos se esticavam em grandes toalhas e cangas pelos gramados - lotados de formigas, por sinal. Eu e Fernanda, que me acompanhava (e a quem agradeço pelas boas fotos!), fomos picados de leve, o que não nos tirou o humor. Sem nenhuma cerimônia, cestas, tupperwares e até panelas eram abertas por ali, dando início ao picnic bastante familiar. Acho que só fiz picnic uma vez na vida, em Paquetá, quando criança. Depois, nunca mais. Pelo o que vi pela Quinta, os visitantes adeptos a isto pareciam ter experiência, já que traziam quase a cozinha inteira de casa. Bom... era mais como forma de ajeitar tudo da melhor forma possível no final, sem deixar sujeira, do que simplesmente festejar ou causar balbúrdia. O ambiente é bem familiar, eu garanto!

Por trás do belo casario onde funciona o Museu Nacional, há uma alameda gastronômica bastante da popular e típica. São diversas carrocinhas de cachorro-quente, churrasquinho, doces e balas, entre outros sanduíches. Sem contar os isopores cheinhos de gelo e refrigerantes - nesse dia me resfresquei com um guaraná natural dos meus preferidos! Muitos artistas de rua se embrenhavam em meio aos brinquedos coloridos de plástico vendidos por simpáticos ambulantes, enquanto famílias inteiras pedavalam aqueles bicicletões típicos da Avenida Atlântica aos domingos. 

Contabilizando... passamos 3 horas e alguns minutos lá, assim, de bobeira, sem pensar na vida, curtindo, relaxados, o frescor de um lugar pouco divulgado e de tão fácil acesso. Fica a dica, meu amigo - a Quinta da Boa Vista é o nosso Ibirapuera. 

Quinta da Boa Vista
Entrada pela Rua General Herculano Gomes ou pela Avenida Rotary Internacional.
Metrô/Trem: Estação São Cristóvão.
Alguns dos ônibus que passam por ali ou perto (Radial Oeste): 434 (Grajaú-Leblon), 435 (Grajaú-Gávea), 436 (Grajaú-Leblon, Via Rebouças), 460 (São Cristóvão-Leblon), 461 (São Cristóvão-Ipanema), 463 (São Cristóvão-Copacabana), 232 (Praça Quinze-Lins), 247 (Camarista Méier-Passeio), 249 (Água Santa-Carioca), 254 (Praça Quinze-Madureira), 268 (Praça Quinze-Rio Centro), 284 (Praça Seca-Tiradentes), 665 (Saens Peña-Pavuna).

18.4.11

À beira da Quinta

Um especial sobre o conjunto de ruas que vêm ganhando novíssimos empreendimentos imobiliários e mudando a cara da região que já foi a mais nobre do Rio

Mapa do entorno da Quinta da
Boa Vista, na Zona Norte do Rio.
Em uma manhã ensolorada de domingo, supõe-se que todos os cariocas estejam se dirigindo para as praias ao sul da cidade. Certo? Errado! Pela passarela que interliga a Avenida Radial Oeste e São Cristóvão passavam dezenas de pessoas recém-desembarcadas do metrô e do trem em direção à Quinta da Boa Vista, parque que eu não visitava há mais de uma década. Lembro-me com carinho dos passeios da escola ao Jardim Zoológico e aos picnics no gramado da Quinta. No entanto, antes de revisitá-la, fiz um recorrido a pé pela avenida que margeia o parque onde morava o imperador.

 Muitas pessoas desembarcam nas estações São Cristóvão do metrô e do trem para aproveitar o dia na Quinta da Boa Vista.

Antes de mais nada, é preciso informar aos navegantes que andar a pé por ali só vale a pena se for em um dia como esse, de grande movimento pelo parque e com a luz do sol, de preferência. Basta cair a noite para que a Quinta da Boa Vista mergulhe na escuridão ainda mais fortalecida pela quantidade de árvores e folhas centenárias de São Cristóvão. Sem esquecer de que é no período da noite o momento menos charmoso da Quinta, já que se converte em zona de prostituição e de alguns meliantes. Um defeito contínuo, que pode ser remediado com a implantação de eficientes políticas públicas.

Mesmo assim, recomendo um passeio por ali - ainda que seja de carro., se você preferir. Até porque, como já relatei no post anterior, existe um movimento de recuperação de São Cristóvão e as avenidas Rotary Internacional e General Herculano Gomes prometem ser as maiores beneficiadas. Afinal, morar de frente para um espaço verde como a Quinta é sinônimo de status em outros lugares... Menos no Rio, que tem a praia como carro-chefe (e quase único) no que tange aos espaços de lazer, em detrimento dos grandes espaços verdes urbanos. 

 O início da Rua General Herculano Gomes em dois momentos: defronte para a passarela que liga a Radial Oeste e, na outra, já com o Hospital Quinta D'or, na Rua Almirante Baltazar.

O início da Rua General Herculano Gomes é bem confuso, principalmente em função do formigueiro humano que transita entre o parque, o metrô e o trem, logo ali. Um ponto final de ônibus de linhas que vão para Copacabana e Leblon, todos daqueles amarelinhos, também contribui com a desordem. A entrada da Quinta também é caótica nos dias de domingo, embora seguir pela General Herculano Gomes em direção ao Campo de São Cristóvão seja bem mais tranquilo. Poucos pedestres, é claro, e muitos automóveis procurando onde estacionar.

 A Rua General Herculano Gomes lembra um pouco a Avenida República do Líbano, em São Paulo, que é a que circunda ao norte o Parque do Ibirapuera.

A placa indica praça
na rotatória
Quem conhece São Paulo e consegue identificar suas particularidades, diria que a Rua General Herculano Gomes é um exemplo paulistano dentro do Rio. Larga, duas pistas e canteiro central, parece de fato uma daquelas ruas paulistanas, principalmente a que circunda o Parque do Ibirapuera. Árvores gigantescas que se alinham às outras árvores no interior do parque, promovendo um grande telhado de folhas e galhos. Há, inclusive, um certo desnível entre uma pista e a outra, tendo o canteiro central um pequeno aclive todo cheio de grama. É muito bonito - e poderia ser ainda mais se fosse menos mal amado.

Surgimento de
novos prédios
De prédios e casas, a General Herculano Gomes é bem pobre. Pobre no sentido de que não há muita coisa construída (a não ser galpões abandonados), o que nos impede de ver e admirar, situação que está mudando com a construção de novos condomínios. Espaço é o que não falta. Há pelo menos dois novos condomínios em construção, já levantados e no esqueleto, com previsão de entrega para o final de 2011, perto já da Avenida Pedro II. Mais para o início da rua, está o Hospital Quinta D'or, inaugurado em 2001. Talvez ele que tenha recuperado um pouco a lembrança de que, sim, existe um parque do porte como o da Quinta da Boa Vista aqui no Rio de Janeiro. Para os portadores de plano de saúde, o hospital é referência e atrai pacientes de todos os cantos da cidade.

 A chegada à praça rotatória, onde está o antigo portão do parque. Ali é a confluência das avenidas Pedro II e Rotary Internacional e da Rua General Herculano Gomes.

A mureta do Museu Conde
de Linhares
Acho que o grande barato do lado de fora da Quinta é quando se chega à união da Rua General Herculano Gomes com as avenidas Pedro II e Rotary Internacional. É ali, numa praça rotatória, onde está o antigo e formosíssimo portão da Quinta da Boa Vista, mantido intacto após intervenções viárias na região. Esse, na minha opinião, é um dos locais da cidade de que eu mais gosto. Acho muito bonito esse portão e o seu entorno, de trânsito  carregado devido à confluência das três avenidas citadas.

 O panorama da Rua General Herculano Gomes, vista da praça onde está o antigo e intacto portão da Quinta da Boa Vista.

Já quando a Herculano Gomes se transforma em Avenida Rotary Internacional é que aparecem os primeiros condomínios já construídos da região. Na verdade, o endereço oficial do condomínio Paço Real, por exemplo, é o da rua detrás, Euclides da Cunha 255. Uma série de lançamentos imobiliários pretende mudar a cara dessa parte do bairro, tornando-o mais agradável e familiar. Se depender dos números dos novos empreendimentos, é bem capaz que o tenebroso panorama que assolou a Quinta esteja mudando sim. Aliás, eu espero que sim, porque é uma área nobre sob todos os pontos de vista, principalmente o histórico. É preciso recuperá-la! 


 O condomínio Paço Real, pioneiro na região, e os seus jardins na Avenida Rotary Internacional. 

A minha caminhada terminou bem na esquina com a Rua do Parque. Não segui até o final da Rotary Internacional porque estava ansioso para curtir as belezas do interior da Quinta. Por lá estava bem divertido... vocês verão na próxima postagem! Um abraço! 

 Fim do percurso, próximo à Rua do Parque. Encontrem-me agora dentro da Quinta! Acompanhem!